terça-feira, novembro 24, 2015

UANJINHOBÊBADO

       Isso ela não esperava: Oscarzinho, seu ex, aparecer lá em Mar Grande, naquela festinha de aniversário da neta Juliana. Não estava preparada pra isso. Se soubesse que ele ia aparecer, com aquela gordona que ele tava vivendo, as pernas cheias de celulite, ela teria se aprontado melhor. Não que ele merecesse isso, apenas pra não ficar por baixo, sair humilhada. Que desplante! Aparecer assim, ele que não vinha há anos, há anos não botava o pé naquela casa e agora vir e ainda trazendo aquele mastodonte, aquela perua de contrapeso, no reboque. Mulher gorda, feia, antipática. Diz que é médica. Médica não sei de quê. Hoje todo o mundo é médico, é medica. Deve ser alguma pedicura, só restava mesmo rir com aquela situação, o ridículo daquela situação. E, no mais, ter que bancar a boazinha, a simpática, todo o mundo de olho nela, estudando a sua reação, o seu controle. Sorria, Viviane, sorria. Mostre-se superior, que você está feliz, que não precisa dele, não precisa de ninguém. Na hora de ir embora não pediu conselho, não abriu o coração, nem sequer avisou ninguém. Saiu porta a fora com suas malas, dizendo que ia pra Brasília por causa de um negócio, uma causa que estava defendendo, ia falar com uns figurões de Brasília, ia falar com o Ministro, não sei quem do Supremo Tribunal Federal... e lá foi ele, levando uma estagiária, uma menina nova na bagagem. Ah, vá, vá e se divirta! Tomara que ela lhe encha de chifre, é o que você está mesmo merecendo! Já velho, ficando caduco e, agora, além de caduco, maluco. Deixando a família, as filhas, os netos, tudo atrás de uma paixão --- saíra contando pra Deus e o mundo que estava apaixonado, que estava recomeçando a vida:
       --- Estou me sentindo um jovem!
       Amor que durou pouco. Se durou muito, durou um ano. Seu Oscar de novo sem lar, morando num “flat”, bancando o moderninho, o quarentão apaixonado, o cinquentão doidão... Comprou até um carro novo em folha, vermelho coral, um carro importado, só tinha dois na cidade. Ele cheio de cuidado, com medo de ser sequestrado, parecia uma arara no meio do trânsito, o carro mais vermelho que o sinal do trânsito. Quem é aquele? Ah, é Dr. Oscar, tá na segunda juventude...
       Ridículo. Ridículo. Quem é que podia se confiar num advogado desses? Quem é que vai deixar uma mulher, uma filha junto dele, conversar com ele? Cuidado que o baixinho é frenético e te carrega!
       --- Estava aqui por perto...
       Oscarzinho risonho, copo de uísque numa mão, cigarrinho na outra, abrindo o seu leque de explicações:
       --- Estamos aqui perto, alugamos uma casa no condomínio...
       A mulher, a tal da Dra. Isaura, toda enfezada, uma pata choca, fazendo careta, se queixando do calor. Tava sempre se queixando de alguma coisa. Que Mar Grande não é mais aquela, está muito misturada, que o povo da Bahia não tem um pingo de educação, somente mesmo a pessoa se isolando, botando uma cerca...
       --- E de arame farpado... --- a risada de Oscarzinho, solidário, botando um braço no ombro de sua última conquista, Dra. Isaura com uns ombros enormes, parecia uma trave de futebol.